segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Fatores que contribuem para a doença cardiovascular e a importância do Gerenciamento de Estresse

Estudos mostram que uma das principais causas de anormalidades no ritmo cardíaco em pessoas que já apresentam doenças coronarianas é o estresse agudo. A adrenalina (hormônio do estresse) eleva a pressão arterial, aumenta a velocidade de coagulação do sangue e acelera todo um conjunto de outros processos fisiológicos que tendem a acelerar o crescimento das placas de ateroma, depósitos no interior dos vasos sanguíneos que obstruem as artérias coronárias. Enormes surtos de adrenalina e outros hormônios relacionados ao estresse, como a cortisona, também podem levar as células do músculo cardíaco à exaustão extrema. Vale ressaltar que essa adrenalina é mais elevada em pessoas hostis, pois nessas pessoas, a ativação do sistema nervoso parassimpático (sistema que protege o corpo do ataque violento dos hormônios do estresse) é mais lenta. (Willians, 1997).
De formar geral, o estresse desempenha um papel sutil, mas que com o decorrer do tempo vai assumindo grande significado no desenvolvimento da doença coronariana. Os riscos que contribuem para o aparecimento das doenças coronarianas podem ser físicos, biológicos e psicossociais, como por exemplo, hipertensão arterial, cigarro, colesterol alto, preocupações freqüentes, hostilidade, intensa competitividade e falta de apoio social. Estudos mostram que esses aspectos isoladamente possuem um efeito que não é o mesmo quando em conjunto e que não são igualmente danosos para o coração. (Willians, 1997).
Pelletier (1997) também fala sobre mente e corpo como sendo algo ligado e com grande influência sobre a saúde e a doença. O campo da psiconeuroimunologia tenta incluir os domínios da mente e das emoções, do cérebro e do sistema nervoso central e do sistema imunológico, trazendo contribuições significativas.
Alguns estudos foram realizados com a intenção de verificar os riscos da alta hostilidade. Características como maior raiva e irritabilidade, reações fortes do sistema nervoso simpático e fracas do sistema nervoso parassimpático, maior propensão a comer, beber e fumar, podem ser conseqüência potencial de níveis cerebrais reduzidos de serotonina (neurotransmissor que atua na transmissão de mensagens através de sinapsis). A hostilidade pode ser associada a uma deficiência de serotonina no cérebro. (Willians, 1997).
Também foram realizadas pesquisas referentes ao apoio social e estresse no trabalho e, da mesma forma, essas mostraram que o apoio social inadequado, assim como o alto nível de estresse no trabalho, também podem prejudicar o sistema cardiovascular. Entende-se por apoio social: a família, amigos, colegas e até que ponto essas pessoas satisfazem às suas necessidades.
As pessoas que não tem um bom apoio social, que não tem pessoas que lhes lembre da necessidade de tomar um remédio, fazer exercícios, parar de fumar etc, são pessoas mais propensas ao estresse do que as que têm mais laços afetivos. (Willians, 1997).
Acredita-se que outros fatores psicossociais como a depressão e o pessimismo também possam ser causadores ou agravantes das doenças cardiovasculares. (Willians, 1997).
Pelletier (1997), acredita que o estresse atual é muito mais psicológico e interpessoal e que nosso organismo reage como se ainda estivesse encarando uma ameaça física real (luta e fuga). A consequência para a saúde também irá depender do tipo de estresse: de curto prazo ou intenso (ex. um acidente ou barulho alto repentino) ou de longo prazo ou crônico (ex. pressão de um prazo de entrega). A reação em ambos é a mesma, ocorre ao mesmo tempo uma agitação física e psicológica, o que difere é o tempo de duração.  Essas reações ao estresse são controladas pelo sistema nervoso autônomo, que têm duas ramificações: sistema nervoso simpático (regula o tipo de estímulo) e o sistema nervoso parassimpático (induz ao relaxamento, compensando os períodos de altos estímulos). Essas respostas relaxantes são um estado biologicamente regenerativo, que ajuda o corpo a se recuperar, pois diminui a frequência cardíaca, a pressão sanguínea e a tensão muscular.
Frequência cardíaca também é assunto sério. De acordo com Lippi, Frare e Santos (2007), o estresse emocional é o principal desencadeador de mudanças na freqüência cardíaca. Alexitimia (dificuldade de identificar e expressar vários tipos de emoções), Inassertividade (falta de habilidade para defender os direitos pessoais e expressar opinião) e tendência à agressividade são características que tem sido identificadas na população hipertensa.
Parece que o jeito é relaxar, e ao falar sobre respostas relaxantes, vale citar que o exercício físico praticado de forma orientada pode ter esse efeito. Porém, algumas pessoas exageram e acabam fazendo dele sua única forma de diminuir o nível de tensão.
Para tal comportamento, a psicossomática explicaria a partir dos procedimentos autocalmantes. Estes procedimentos são apresentados, por uma série de condutas, hábitos e atitudes no homem atual: a música estridente, os esportes de risco, os rachas de carros, jogos eletrônicos, os filmes de adrenalina, o tabagismo, os tóxicos e o exercício físico exagerado. Essas condutas propiciam uma descarga automática do nível de tensão (Filho, 1999).
Volich (2000) chama a atenção para a busca de vivências cada vez mais intensas, extremas e excitantes e para um uso dos exercícios físicos revelador de limitações e exagerado.
Conclusão
Durante o meu estágio na Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício no HCFMUSP, pude conviver com atletas profissionais e amadores, de diferentes idades e modalidades e pude observar a importância que cada um atribui ao esporte, às suas relações pessoais, ao trabalho, a família, ao tratamento proposto (cardiologia, nutrição, educação física e psicologia) e principalmente verificar a influência do estresse em suas vidas, bem como a forma que cada um busca para gerenciá-lo.
Pude notar que os ensinamentos parecem ser os mesmos para todos. Aprendemos durante nossa vida a valorizar certos eventos e desprezar outros, a dar importância a algumas coisas e menos importância a outras. Aprendemos a ter expectativas quanto ao presente e ao futuro. Da mesma forma sempre esperamos algo das pessoas e de nós mesmos. Mas, expectativas exageradas ou não satisfeitas podem nos deixar extremamente frustrados, gerando um estado de desequilíbrio do organismo em resposta a influência do mundo que nos cerca, ou seja, nos leva ao estresse. Aprender a gerenciar esse estresse é a proposta do programa.
Acredito que o gerenciamento de estresse seja essencial pela possibilidade de detectar e orientar, principalmente o estresse crônico que não permite ao organismo uma pausa para se recuperar. O retorno dos pacientes quanto a eficácia do aprendizado de algumas técnicas de relaxamento também deixa claro sua utilidade.
Ficou claro que não somente o tipo de estresse que a pessoa passa, mas também a forma como ela encara essa situação, pode ser decisivo para a sua saúde ou doença. Isso envolve a capacidade pessoal de cada um e a intensidade de seus laços sociais. O programa também está atento a isso.
Ninguém pode se isolar dos estresses do mundo moderno, mas podemos adotar atitudes e comportamentos que nos levem de volta ao bem estar, ou seja, buscar uma relação sadia com nossa mente, com o ambiente e também com o corpo. Buscar a harmonia do comportamento coletivo e individual.
Neste contexto o exercício físico pode ser nosso aliado, pois inclui uma enorme variedade de atividades, não precisando necessariamente nos limitar à academia. Este deve ser uma diversão e não um trabalho que cause mais pressão ou estresse. Assim, é importante experimentar algumas atividades diferentes até encontrar aquela que mais agrada. A atividade física que se inicia como obrigação ou sacrifício será rapidamente abandonada, por mais consciente que o indivíduo possa estar do seu real benefício. Essa conscientização essencial é feita de forma simples e clara.
Da mesma forma, a atividade iniciada por prazer e que lentamente caminha para um exagero também pode causar prejuízos ao organismo, passando o próprio esporte a ser uma fonte de estresse.
A Psicossomática também traz a sua contribuição para o entendimento quanto a esse exagero na atividade física ao falar sobre os procedimentos autocalmantes, ou seja, a busca de medidas particulares para diminuir o nível da tensão psíquica sentida como dolorosas.
Mais do que uma atividade física, prescrição de dieta e exames cardiológicos, o programa busca fazer com que os participantes compreendam sobre os seus estados físicos e psicológicos e o quanto cada atitude pode influenciar em sua saúde. Seja qual for o motivo que levou esse paciente ao programa do Incor, a ordem é promover a qualidade de vida e o bem estar físico e mental.
Bibliografia
FILHO, J. M. Concepção psicossomática: visão atual. Casa do psicólogo: 9ª edição, 1999.
HERRIDGE, M. L., LINTON, J. C. Questões psicossociais e estratégias. In: Compendio de programas de reabilitação cardíaca: promovendo a saúde e prevenindo a doença. American Association of cardiovascular and pulmonary reabilitation. 2007.
LIPP, M. E. N. Efeitos de variáveis psicológicas na reatividade cardiovascular em momentos de stress emocional. Estudos de Psicologia: Campinas, 2007.
LOZANO, M., SOSA, J. M. M. V., FRAGUA, L. G. El medico de familia en la encrucijada psico-somatica del paciente coronario. Reunião do grupo de trabalho de reabilitação cardíaca da sociedade espanhola de cardiologia. Disponível em: http://www.unifesp.br/dis/bibliotecas/index.php?pag=artigos.php. Barcelona. Data: 21 abr. 2003.
PELLETIER, K. R. Entre a mente e o corpo: estresse, emoções e saúde. In: - GOLEMAN, D. et al. Equilíbrio mente e corpo: como usar sua mente para uma saúde melhor. 3. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. p. 15-31.
RUBIO, K. Estresse que machuca. Caderno Equilíbrio: Folha de São Paulo. Disponível em: http://www.abc.esp.br/index.php?conteudo=11&id=144. Data: 02 fev. 2007.

WAJNGARDEN, M. Coração, manual do proprietário: tudo o que você precisa saber para viver bem. São Paulo: MG editores, 2002.
WILLIANS, R. B. Hostilidade e Coração. In: - GOLEMAN, D. et al. Equilíbrio mente e corpo: como usar sua mente para uma saúde melhor. 3. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. p. 55-71.
VOLICH, R. M. Psicossomática: de Hipócrates à psicanálise. Casa do psicólogo, 2000.
VOLICH, R. M., FERRAZ, F., RANÑA, W. Psicossoma IV: corpo, história e pensamento. Casa do psicólogo, 1999.

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