quarta-feira, 30 de março de 2011

O que as mulheres têm de tão específico?


Texto que demonstra o início de um trabalho maravilhoso coordenado pelo Prof. Dr. Paulo Margarido e pela Prof. Dr. Kátia Rubio: o Ambulatório da Mulher Atleta no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo.



Parabéns a vocês e que essa nova geração de atletas possa disfrutar dessa atenção especial com todo o respeito que merecem.


Segue texto de Kátia Rubio

Ouço com certa freqüência essa pergunta. Além de ter que conviver com piadas desagradáveis do tipo que fomos feitas a partir de um pedaço da costela de Adão, ou que somos uma caixa preta como disse Freud ou ainda que somos sensíveis dos nervos, como sugeriu Pierre de Coubertin.

Independente dos argumentos o que podemos observar é que ao longo de alguns séculos as mulheres buscaram de diferentes formas, com mais ou menos sucesso, firmar sua identidade. No âmbito esportivo isso se deu a duras penas. Na Antiguidade a exclusão feminina era justificada pelo não exercício da cidadania. No final do século XIX, a condição de coadjuvantes era justificada pela fragilidade física e emocional.

No entanto, o que se observou ao longo do século XX foi a crescente participação feminina não apenas no ambiente competitivo, mas também em terrenos consagrados como masculinos, fossem eles no campo da gestão ou na condição de técnicas.

As mulheres atletas brasileiras apresentam uma trajetória de lutas e conquistas, embora bastante distinta das norte-americanas ou européias. Um fato que me chamou a atenção, e provocou um projeto de pesquisa, foi o início da participação feminina brasileira em Jogos Olímpicos se dar em 1932 e, no entanto, as primeiras medalhas serem conquistadas apenas em 1996. Os resultados da pesquisa apontam várias questões e dentre elas está a falta de cuidado específico com as atletas.

Diante desses dados e buscando entender que a saúde da mulher merece cuidados específicos foi criado o Ambulatório da Mulher Atleta no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo com a coordenação do Prof. Dr. Paulo Margarido, chefe da Ginecologia do HU e minha. A idéia surgiu de nossas preocupações com atletas que vínhamos atendendo e apresentavam demandas específicas e que escapavam às avaliações habituais. Atletas com variações de humor em função de variação hormonal podem ver todo o esforço de 4 anos de trabalho, um ciclo olímpico, se perder. Sabe-se que a incidência de fraturas por stress em mulheres atletas é muito maior que em homens e isso também parece estar relacionado com a variação hormonal. Essas e tantas outras inferências nos mobilizaram a oferecer um serviço que pudesse contribuir para a carreira de mulheres atletas, não apenas para os próximos Jogos Panamericanos ou os Jogos Olímpicos de 2012 e 2016, mas pensando principalmente nas muitas gerações que ainda virão e que poderão ser respeitadas na sua singularidade, como atletas, como mulheres e como cidadãs.



Nenhum comentário:

Postar um comentário